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Sarin, cloro e mostarda: o histórico de ataques químicos na Síria


O ataque químico que matou pelo menos 58 pessoas e feriu 160 nesta terça-feira não é o primeiro ocorrido na Guerra Civil síria. Desde 2013, o uso desse tipo de arma no país é questionado pelas Nações Unidas. Os ataques de maior impacto foram os ocorridos na região de Ghouta, em Damasco, em agosto de 2013 e o de Khan al-Assal, em Aleppo, em março de 2013. Inúmeros outros foram apontados, registrados e investigados. Desde 2012, foram denunciados por entidades internacionais pelo menos 60 casos. Ao todo, de nove supostos ataques químicos estudados pelos especialistas, três foram atribuídos ao regime de Bashar al-Assad e um ao Estado Islâmico.

Em outubro do ano passado, um inquérito determinou que forças do governo usaram armas químicas pelo menos três vezes entre 2014 e 2015 e que o Estado Islâmico usou gás de mostarda em 2015. Após o ataque em Ghouta, em 2013, o governo sírio entrou para a Convenção Internacional de Armas Químicas por meio de um acordo entre a Rússia e os Estados Unidos.

Até setembro de 2013, a Síria era um dos sete Estados que não eram membros da Convenção de Armas Químicas. No entanto, participava do Protocolo de Genebra de 1925, que proíbe o uso de armas químicas em guerra — mas não impede produção, armazenamento ou transferência. Avaliações independentes indicam que a produção síria poderia ser de algumas centenas de toneladas de agentes químicos por ano. O país supostamente fabricava sarin, tabun, VC e tipos de gás mostarda. Em 14 de setembro de 2013, um acordo chamado Framework for Elimination of Syrian Chemical Weapons (quadro para a eliminação das armas químicas da Síria) levou à eliminação de estoques de armas químicas no país em meados de 2014.

As Nações Unidas e a Organização pela Proibição de Armas Químicas estão investigando se Damasco está cumprindo com suas tarefas depois do acordo de 2013.

ATAQUES COM SARIN

DAYA Al-DEEN

O ataque químico de Ghouta ocorreu em 21 de agosto de 2013, quando diversas áreas controladas ou disputadas pela oposição nos arredores de Damasco foram atingidas por foguetes contendo o agente sarin. As estimativas de número de mortos seria de pelo menos 1.429. Entre eles, 426 crianças. Nenhuma vítima apresentava feridas. O episódio pode ser considerado o uso mais letal de armas químicas no país. O governo sírio e a oposição acusam um ao outro pelo ataque. Muitos governos afirmaram que a ação foi realizada por forças de Assad. Apesar de não assumir autoria, o governo aderiu à Convenção de Armas Químicas e concordou em destruir seu arsenal no mesmo ano.

O ataque químico de Khan al-Assal, com o uso de sarin, ocorreu em 19 de março de 2013. De acordo com o Observatório de Direitos Humanos da Síria, resultou em pelo menos 26 mortes. Das vítimas, 16 eram soldados do Exército e dez eram civis. Além disso, houve 86 feridos. O governo sírio e a oposição se acusaram de terem tramado o ataque, mas nenhum dos dois lados apresentou provas concretas. Damasco pediu à ONU que investigasse o ocorrido, mas disputas pela liderança da investigação levaram a atrasos.

O sarin foi descoberto em 1938 em Wuppertal-Elberfeld, na Alemanha, quando tentavam criar pesticidas mais potentes — sendo o sarin o mais tóxico dos agentes neurotóxicos da época. Sem odor, é visto como uma arma de destruição em massa pelas Nações Unidas. Sua produção e armazenamento foram proibidos na Convenção sobre Armas Químicas de 1993.

ATAQUES COM CLORO

O Conselho de Segurança da ONU recebeu uma denúncia sobre um ataque do Exército com cloro em Qmenas (província de Idlib), em 16 de março de 2016. Em um comunicado anterior, a comissão de investigação batizada como Mecanismo de Investigação Conjunta (JIM, na sigla em inglês), concluiu que helicópteros militares haviam espalhado gás cloro por pelo menos mais outras duas localidades de Idlib: em Talmenes, em 21 de abril de 2014, e Sarmin, em 16 de março de 2015.

Em 10 de setembro de 2014, os investigadores da Organização para a Proibição de Armas

Químicas (OPAQ) confirmaram que cloro foi usado como arma química de forma sistemática em Kafr Zita (província de Hama) e em Al Tamana. Washington, Londres e Paris acusaram o Exército sírio de ter realizado ataques com cloro por 16 meses. Para a Rússia, aliada do regime, não existem provas disso.

Em 2 de agosto de 2016, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) mencionou 24 casos de asfixia na cidade rebelde de Saraqeb, 50 km ao sul de Aleppo. Em 12 de agosto, a França expressou sua preocupação sobre um ataque químico em Aleppo, em 10 de agosto, que teria causado quatro mortes e dezenas de feridos. Os dois teriam sido com cloro.

O cloro provoca irritação no sistema respiratório, especialmente em crianças. No estado gasoso, irrita as mucosas, e no estado líquido queima a pele. Pode ser identificado no ar por conta de seu forte odor e é letal em grande quantidade. Passou a ser usado como arma química a partir da Primeira Guerra Mundial.

ATAQUES COM GÁS MOSTARDA

Em agosto de 2015, A Sociedade Síria Americana de Medicina (SAMS) indicou que havia sido identificado o uso de gás mostarda na cidade de Marea. A SAMS, que tem clínicas por toda a Síria, disse que “mais de 50 civis apresentando sintomas de exposição a agentes químicos” foram tratados em um hospital de campo. O ataque foi atribuído ao Estado Islâmico, que por meses ficou na tentativa de tomar a cidade, considerada a mais importante fonte de combatentes e armas na província de Aleppo.

O gás mostarda é asfixiante e foi usado pela primeira vez pelos alemães na Bélgica, em 1917. Ele foi proibido pela ONU em 1993. Em 14 de agosto, o governo dos Estados Unidos havia considerado plausível o uso de gás mostarda pelo EI em um ataque contra combatentes curdos no Iraque. De acordo com “The Wall Street Journal”, os extremistas teriam adquirido o gás mostarda na Síria, quando o regime de Assad se desfez de seu arsenal químico sob pressão da comunidade internacional, ou no Iraque.


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