Dentes são furtados e vendidos em cemitérios de Manaus
O comércio ilegal de dentes é comum em cemitérios de Manaus. A reportagem do EM TEMPO percorreu o Nossa Senhora Aparecida ou Parque Tarumã, Zona Oeste, e São João Batista, Zona Centro-Sul, onde encontrou um submundo criminoso onde estudantes de odontologia, vigilantes e coveiros negociam os objetos nos valores de R$ 10 a 150.

“Em determinadas disciplinas precisamos de dentes em bom estado de conservação para fazermos nossos procedimentos na faculdade. Os dentes são solicitados pelos professores, muitos alunos conseguem por meio de doações ou compram em consultórios, só que é muito difícil de encontrar totalmente saudáveis como os professores pedem, então, alunos apelam para o cemitério”, explicou uma universitária do 7º período de odontologia, de 20 anos, que pediu para não ter o nome divulgado.
Outro estudante do curso, de 29 anos, também explicou que essa pratica é usada nas disciplinas de endodontia e dentística. “São nessas duas matérias que são necessários utilizar dentes para fins de restauração e canal”, relatou o universitário.
Negociações
No Parque Tarumã, na avenida do Turismo, durante a primeira abordagem, um coveiro que trabalha há 10 anos no local, explicou que o serviço é feito quando tem a autorização da família, mas quando a demanda é grande os profissionais conseguem retirar os dentes mesmo sem a aprovação de familiares.
Questionado se havia possibilidades de fazer a venda sem a autorização, o coveiro contou que é um procedimento
complicado, mas que acontece com frequência.
“Quando não há autorização damos nosso jeito quando ficamos sozinhos sem a presença dos fiscais” disse.
Sobre o valor do produto, o coveiro do Parque Tarumã foi bastante ambicioso e cobrou R$150, por um dente. E explicação do valor foi que os dentes retirados de ossadas da parte privatizada do cemitério são mais conservados. O coveiro ainda informou que na parte pública do cemitério é mais comum esse tipo de comércio e que produto é mais barato porque vem mais deteriorado.
“Na parte de baixo do cemitério o material vem todo sujo de barro, por isso são vendidos mais baratos”, contou o coveiro.
No cemitério São João Batista, nossa equipe procurou por trabalhadores terceirizados que fazem pequenas reformas e construções. Eles confirmaram a comercialização desses materiais e também fizeram suas ofertas de dentes que estavam guardados para venda.
“Fazemos construção e reformas das sepulturas, além da limpeza. Nesses serviços encontramos os restos mortais e já fizemos várias vendas. Inclusive tenho uma peça na minha casa, uma arcada com três dentes aguardando para ser vendida”, disse um operário, que ofereceu R$ 30 pelo produto.
Fiscalização
O presidente do Conselho Regional de Odontologia do Amazonas (CRO-AM), João Batista Franco, informou que o órgão desconhece esse tipo de prática entre os estudantes e que deve fiscalizar de onde surgiu esse tipo orientação para os acadêmicos.
“Nós repudiamos essas práticas, isso acaba estimulando outros crimes. O procedimento correto seria o uso de manequins para serem utilizados nessas aulas práticas. Vamos cumprir nosso dever de fiscalizar”, explicou.
FONTE: PORTAL EM TEMPO